Doação de órgãos transforma luto em esperança na Santa Casa de Votuporanga
10/07/2025
Ato solidário de A.M.P.P., de
62 anos, emociona Votuporanga. Órgãos foram captados na Santa Casa
e transportados por avião da FAB
Na tarde do dia 7 de julho, a
Santa Casa de Votuporanga viveu um dos momentos mais comoventes de
sua história. Por meio da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de
Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), em parceria com a
Organização de Procura de Órgãos de São José do Rio Preto
(OPO-SJRP), foi realizada a captação de córneas, rins e fígado do
doador A.M.P.P., de 62 anos.
O gesto de generosidade vai
beneficiar cinco pessoas — e contou com um detalhe simbólico e
emocionante: os órgãos foram transportados por um avião da Força
Aérea Brasileira (FAB), fazendo com que A.M.P.P., piloto há mais de
30 anos, estivesse em um último voo, um cheio de esperanças.
A doação de órgãos
é um ato silencioso, mas transformador. E em meio à dor da perda, a
família do piloto A.M.P.P., decidiu transformar o luto em esperança.
A vontade de doar já era um desejo antigo do próprio doador, como
contou sua esposa, R.P.
“Sempre foi um desejo dele
fazer a doação de órgãos, a gente sempre comentava aqui em casa.
Ele falava que, quando partisse, se possível, gostaria de ajudar
outras pessoas”, disse, emocionada. “Toda a família consentiu,
foi uma decisão tomada em conjunto. Ele era uma pessoa muito boa!
Tenho certeza de que ele ficaria feliz em saber que ajudou alguém,
mesmo depois da morte.”
Além de respeitar essa
vontade, a decisão foi também um tributo à sua trajetória de
vida. “Eu só tenho a agradecer a ele, tinha um caráter, uma
índole maravilhosa. Ele sempre vai estar nos nossos corações”,
afirmou. “Espero que ele esteja lá em cima, fazendo o que mais
amava: voando.”
A logística da captação
envolveu diversas equipes da Santa Casa — Emergência, UTI, Centro
Cirúrgico, CIHDOTT e Administração —, com o apoio da Central de
Transplantes. Para que os órgãos chegassem rapidamente aos
receptores, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi
mobilizado para o transporte, garantindo agilidade e segurança no
trajeto. O símbolo do voo ganhou ainda mais significado, ao carregar
em seus compartimentos a continuidade da vida proporcionada por um
piloto apaixonado pelos céus.
A escolha dos receptores segue
critérios definidos pela Central Nacional de Transplantes do
Ministério da Saúde, com base em compatibilidade, tempo de espera e
condição clínica. A identidade dos receptores é mantida em
sigilo, e não há contato entre as famílias.
A enfermeira Fernanda
Medeiros, da CIHDOTT, destaca que toda doação só acontece com o
aval da família. “A legislação brasileira determina que a
autorização familiar é indispensável. Por isso, é tão
importante conversar sobre esse desejo em vida. Essa decisão, tomada
com amor, pode mudar destinos inteiros”, afirmou.
Ela reforça ainda o impacto
de cada ato de generosidade. “Cada órgão doado é uma nova
esperança. E nossa missão é garantir que essa solidariedade se
concretize da forma mais humana e respeitosa possível.”
Mais de 65 mil pessoas
aguardam por um transplante no Brasil, segundo o Ministério da
Saúde. A maioria, por rins, córneas e fígado. A doação feita
pela família de A.M.P.P. contribui diretamente para diminuir essa
fila e leva, a cinco pacientes e suas famílias, a chance de
recomeçar.
Na história da Santa Casa de
Votuporanga, esse gesto ficará marcado como um exemplo de empatia,
generosidade e amor ao próximo. E nos céus, talvez, um novo voo
tenha começado — desta vez, guiado por alguém que, mesmo em
silêncio, continua salvando vidas.